terça-feira, 23 de junho de 2009

O Elogio do Silêncio

Malba Tahan

O Silêncio é preferível à loquacidade; morre do mal do silêncio, mas evita o perigo da loquacidade.
Saber calar é virtude cem vezes mais rara do que saber falar.
Rabi Azai, o sábio, viaja pelo Irã em companhia de vários discípulos. Em certo momento, um mercador persa, que vinha na caravana, tomado de cólera, por um motivo fútil, entrou a vociferar contra os israelitas.
Um dos discípulos disse ao mestre:
- Vamos,ó rabi!, responde com energia a esse homem. Insulta-o por nós. Ele fala em valaat e tu conheces muito bem esse dialeto! Retorquiu o doutor Azai;

- Sim, meu filho, aprendi a falar o dori, o galani e o valaat,mas aprendi a ficar calado em valaat, em dori e em galani. É o que vou fazer.

Guardar silêncio em três dialetos persas. E acrescentou imperturbável, anediando as longas barbas brancas que lhe caíam sobre o peito;

- Seria insensatez trocar injúrias com um exaltado, que deblatera como um louco e que nem sabe o que está dizendo. Pelo silêncio, podes ter um desgosto, mas a loquacidade te trará mil e um arrependimentos.

Uma palavra irrefletida é amiúde, mais perigosa do que um passo em falso. Guarda a tua língua, como guarda o avarento a sua riqueza.

A natureza, que nos deu um só órgão para falar, forneceu-nos dois para ouvir.

A inferência é óbvia. Forçoso é concluir que havemos de ouvir duas vezes e falar uma só.

Conta-se que um árabe ingressou numa comitiva onde todos eram barulhentose discutidores e guadou longo silêncio.

Um dos companheiros segredou-lhe;

- Consideram-te como um dos mais nobres da tua tribo. Sei agora o motivo. És silencioso e discreto.

Replicou o islamita:

- Meu irmão, o nosso quinhão de ouvidos pertence-nos: as palavras afoitas e levianas que proferimos pertencem aos outros.

A palavra que ficou pendente, pelo silêncio, em nossos lábios, é vassalo pronto a servir-nos; a que proferimos, leviana e inoportunamente, é algoz atento em escravizar-nos.

O sábio e judicioso Simeão, filho do rabi Gamaliel, doutrinava:

- Passei a vida entre sábios e nada achei melhor que o silêncio. O essencial não é falar, é fazer.

"E quem fala demais abre, em sua vida, portas e janelas para o pecado."

Ainda no Talmude podemos sublinhar esta sentença:

_ "Quando falares, fala pouco, pois quando menor for o número de palavras tanto menos errarás." E no Livro de Israel figura também este aviso ditado Prudência:

"Quando falares à noite, abaixa a voz; e,quando falares de dia, olha à roda de ti." Se a palavra vale uma sela, o silêncio valerá duas.

As moedas mais ambicionadas são, precisamente, as que encerram, em pequeno volume e diminuto peso, grande valor.

Assim, a força e a beleza de um discurso consistem no exprimirmos, em poucas palavras, verdades profundas e conceitos magistrais

O Tzarkover (morto em 1903) deixou de pregar por largo espaço. Interrogado sobre isso respondeu: - Há setenta maneiras de rezar a Torá: uma delas é o Silêncio!

Távola Literária
Daniel Cristal

Nenhum comentário:

Postar um comentário